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Indústria no Amazonas: em busca de uma nova história contra a crise econômica

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25/05/2015

Queda nos níveis de produção, faturamento e emprego, contingenciamento de recursos, falta de autonomia e greve de servidores da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), indefinição do nome do titular da autarquia que gere o modelo Zona Franca de Manaus (ZFM) e descaso por parte do governo federal: este é o atual cenário no qual o Polo Industrial de Manaus (PIM) está inserido. Os números negativos, é claro, acompanham o desempenho da indústria nacional que, com a crise de confiança no mercado pela qual o país inteiro atravessa, viu a produção e venda de bens de consumo caírem em diversos Estados brasileiros.

No entanto, existe a possibilidade de o próprio modelo ZFM ter a própria crise camuflada na política econômica do governo Dilma Rousseff? Para o economista José Alberto Machado a resposta é sim. Machado lembra que, após registrar o pico na produção no ano de 2007, a Zona Franca de Manaus vem constantemente perdendo ritmo de crescimento.

"A economia nacional certamente afeta o desempenho do PIM, mas nosso principal problema é a crise da Zona Franca em si, que está perdendo ritmo de crescimento há muito tempo. Há um histórico que, lamentavelmente, vem de longe, mas ninguém presta atenção. Tivemos a crise econômica mundial em 2008-2009. Depois disso passamos a viver a expectativa da prorrogação –que demorou e os investimentos foram diminuindo. Depois, já com a prorrogação não houve melhorias, ao contrário, só piorou. A Suframa ficou à deriva e depois veio a crise nacional. Nossos números são os piores do país porque, ao lado da crise nacional, também temos a crise da Zona Franca de Manaus", lamentou Machado.

Para ilustrar o problema, Machado cita os números da produção industrial divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com ele, a partir do segundo trimestre de 2014 para cá, a produção industrial amazonense vem caindo regularmente, na comparação com os mesmos períodos dos anos anteriores. No primeiro trimestre de 2015, por exemplo, a retração de 17,8% registrada pelo Estado do Amazonas na sua produção industrial foi a maior do país neste tipo de comparação. "Quando comparamos os resultados desses trimestres, percebemos que o Amazonas está muito distante. A queda de nossa produção é duas ou três vezes superior à média da queda brasileira. No primeiro trimestre, enquanto o Brasil caiu 5,9%, nós caímos 17,8%. A questão básica é que temos uma crise na Zona Franca de Manaus e ninguém está atentando para isso", afirmou.

Para ilustrar a percepção, o economista citou o exemplo do Pará, Estado vizinho, que, ao contrário do Amazonas, registrou, no mês de março, segundo o IBGE, bons índices de crescimento, mesmo com a crise econômica do país. "O Pará, que está ao lado do Amazonas apresentou indicadores excelentes. Foi o segundo Estado onde a indústria mais cresceu, em comparação aos índices mensais. No acumulado, do ano também foi o segundo que mais cresceu (8,7%)", finalizou.

Wilson Périco, presidente do Cieam (Centro das Indústrias do Estado do Amazonas), também percebe sinais de crise no Polo Industrial de Manaus –aliada à crise da indústria nacional. Para ele, assim como todo o setor industrial brasileiro, os produtos da Zona Franca estão sofrendo com a concorrência com os importados. Além disso, Périco cita os números negativos do faturamento e empregos.

"O Polo Industrial de Manaus sofre –e muito –a concorrência com os importados. Estamos acompanhando, durante os três últimos anos, pelo menos, um crescimento muito pequeno em reais e em dólar existe queda. O número de empregos vem se mantendo no mesmo patamar de 120 mil há pelo menos três anos –e em 2015 vai cair. Mas esses riscos são diferentes daqueles riscos pelos quais o Brasil passa hoje. Existem dificuldades no modelo sim e nós teremos que trabalhar", afirmou Périco.

Crise no sistema e dificuldades


Já o superintendente interino da Suframa, Gustavo Igrejas, tem outra visão. Ele confirma que existe, sim, uma crise instalada no modelo ZFM, no entanto, ele defende a ideia de que a crise do PIM acompanha a crise nacional. Segundo Igrejas, os mesmos efeitos que geraram a crise nacional afetam o Polo Industrial de Manaus. Igrejas garante que o modelo ZFM passa por uma crise devido à falta de demanda dos bens nele produzidos e que essa falta de demanda não é um fenômeno exclusivo do Polo Industrial de Manaus. "Existe uma crise no Polo Industrial de Manaus assim como existe crise no Brasil inteiro. Mas é importante ressaltar que não há crise do modelo, mas sim uma crise que está passando por todo o Brasil. Todos os polos industriais do país que têm como foco principal a fabricação de bens de consumo estão passando por problemas. O governo federal fez um ajuste fiscal, houve uma diminuição da moeda na economia e, com menos dinheiro circulando, isso afeta diretamente a compra de bens de consumo como eletrônicos, eletrodomésticos, automóveis, motocicletas", enumerou Igrejas.

Esta opinião também é compartilhada por Thomaz Nogueira, secretário da Seplancti e ex-superintendente da Suframa. Na opinião de Nogueira, não se pode confundir a crise de mercado e conjunturais do modelo capitalista, como essa que estamos vivendo com crises do modelo ZFM. "Não vejo crise no Polo Industrial de Manaus. Tenho preocupação com os rumos da entidade que gere o PIM e entendo que, mais uma vez é necessário superar algumas questões, especialmente a questão da remuneração do profissional da Suframa. Há também questões do Centro de Biotecnologia da Amazônia, no entanto isso não se reflete em uma crise do modelo", defendeu.

Ele acrescentou ainda que, se estivessem instaladas em qualquer outra cidade do País, as indústrias do polo industrial de Manaus registrariam o mesmo desempenho anotado no PIM. "Para fazer o teste, eu digo que se tivéssemos as indústrias que aqui estão alocadas em qualquer outro ponto do território nacional, o recuo no faturamento e nas vendas seria igual. Portanto, o resultado não é consequência do modelo ZFM, mas sim do próprio sistema econômico", acredita.

Penúria


Sobre o contingenciamento dos recursos da Suframa por parte do governo federal, o prefeito Arthur Neto declarou entender que, em época de crise financeira, existe a necessidade de cautela com os recursos, mas defendeu também um maior repasse, já que a Suframa é hoje um grande arrecadador de tributos. "Em uma época em que o Brasil precisa, mais do que nunca, fazer o seu superavit primário – e neste ano ele não alcançará a meta programada de 1,2% do PIB –, temos que perceber sim a necessidade de contingenciamento sim, mas não em 100% dos preços públicos cobrados às empresas. Seria razoável liberar 30%, 40%, 50% que fosse desse recurso, mas liberar para que a Suframa volte a investir em obras infraestruturantes na região e fortalecer nossa aliança com os Estados vizinhos", afirmou o prefeito.

Sobre a atual situação da Superintendência da Zona Franca de Manaus, Arthur Neto lamentou o que considera ser um "estado de penúria", vivido atualmente pela autarquia, devido principalmente à falta de autonomia do órgão. O prefeito defendeu a ideia de que todo o arbitramento dos Processos Produtivos Básicos nasça dentro do Polo Industrial de Manaus. "Hoje não há menor ingerência da Suframa na formação do processo que leva ao PPB. Não termos nenhuma ingerência sobre a elaboração dos PPBs diminui a Suframa, que acaba se tornando um órgão meramente pagador de água, gás, telefone, luz, pessoal e mais nada. Lembro de uma Suframa que já foi mais pujante, já foi mais forte, com mais autonomia. Um modelo econômico exitoso como é a ZFM deveria ter o reconhecimento, sob a forma de mais autonomia, por parte do governo federal", opinou.

Produção industrial


Segundo os últimos números do IBGE sobre a produção industrial amazonense, referentes ao último mês de março, o Amazonas registrou o pior desempenho do país, com um recuo de 20,6%, frente ao mesmo período do ano passado. O resultado representa a décima segunda taxa negativa consecutiva neste tipo de confronto e a mais intensa desde julho de 2012 (-24,3%). A única expansão apresentada pelo Polo Industrial de Manaus em março aconteceu na comparação frente ao mês imediatamente anterior (fevereiro), quando houve crescimento de 0,5%.

Fonte: JCAM


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